Processo da imigração italiana em Tietê no Século XIX



   Processo da imigração italiana em Tietê

Dessa Terra buscaram a prosperidade, dela fizeram-na rica e próspera, do árduo trabalho dos cafezais até os singelos dedos de proza. Da coragem de enfrentar o monstro do Atlântico ao sonho da terra prometida.
A secretaria de Turismo e cultura dedica esta publicação a todos os imigrantes que aqui enraizaram seu modo de vida e enriqueceram a cultura tieteense.


Contextualizando o período

            Para melhor compreendermos essa transformação social e cultural na cidade de Tietê, seremos remetidos ao fatídico ano de 1850, em que se instaurou a lei Eusébio de Queirós, proibindo permanentemente o tráfico de pessoas escravizadas, abrindo vagas de trabalho no campos de cultivo de café e posteriormente a Áurea que garantia liberdade total a todas as pessoas em que estavam submetidos a condição de escravidão, sendo tal medida sendo impopular em alguns grupos de elites da sociedade paulista. Porém, a implementação das Leis fora de modo extremamente conturbado e sem garantir respaldo social para integração dessas pessoas para o convívio em sociedade de forma igualitária, tanto no campo econômico e como sociocultural, deixando as margens da sociedade.
Outro fator de enorme importância, será o surgimento de uma ideologia muito presente no final do século XIX e início do XX, denominada de Darwinismo social da qual afirmava uma suposta necessidade de branqueamento da sociedade nos campos de trabalho e nos setores agrários afim de melhorar a produção do café, e também dentro das industrias que estavam iniciando um prévio movimento de industrialista no interior paulista, a partir dessa ideologia sem nenhum respaldo,  começam a cogitar a implementar a mão de obra de imigrantes em geral.
            O Processo de alteração de mão de obra veio convir com período de unificação da Itália (Risorgimento), onde passaria por conturbações civis e crises financeiras que abririam o fluxo para emigração dentro da Itália, que ocorreria juntamente ao período de ampla abertura do processo de imigração para o Brasil para suprir essa “falta” de mão de obra nos campos de cultivo, o governo brasileiro com ajuda dos  cafeicultores  passaram a custear o transporte dos imigrantes através dos navios, até os portos de Santos e Rio de Janeiro.
            A região onde se mais destacava por esse fluxo migratório seria a região norte, em especial Vêneto, onde havia uma forte ligação com o trabalho agrário. Posteriormente a crise agrária na Itália se estende ao sul até a região da Calábria, causando uma êxodo massivos da população italiana. Outro fator importante e a relação identitária dos italianos e com a elite agrária brasileira, como as práticas do catolicismo, que culminariam uma relação mais harmoniosa entre os grupos e as elites econômicas.

Hospedaria dos imigrantes.

           O período da viagem até a chegada ao Brasil era extremamente longo e conturbado, o número de pessoas que não resistiam durante a travessia do atlântico era grande. Dado o desgaste físico e mental, era de obrigação os imigrantes chegarem e se estabelecerem na hospedaria destinada a eles (hoje museu da imigração), onde passariam por avaliações medicas e físicas, pois havia uma preocupação de contaminações de doenças pois a Europa inteira vivia assolada com epidemias de varíola, tifo, cólera e tuberculose, onde eles seriam submissos a essa isolação até a liberação médica.             Após a consulta na hospedagem junto com as refeições e o breve repouso, eles estavam dispensados para as grandes fazendas para produção.
 Imagem: Wikimedia

                                                                                                                   
 Imagem: Wikimedia


Ferrovias Paulistas 

          Após a recepção dos imigrantes na hospedaria eles eram dirigidos a estação ferroviária que ficava localizada ali junto ao próprio prédio onde estavam hospedados, partindo dali dois destinos, o interior Paulista e o Rio de Janeiro.

 Imagem: Wikimedia

           O interior paulista já haveria consolidado suas ferrovias para o transporte e escoamento das sacas de café e outros produtos, porém, toda a linha férrea passaria a ser adaptada para transportar os imigrantes para as diversas cidades do interior paulista, a companhia responsável por esse trajeto era São Paulo Railway, de onde faziam conexões entre as linhas férreas estrada de ferro Sorocabana e a companhia Ytuana de Estradas e Ferro, que cortariam todo o interior paulista, onde um de seus trajetos seria a cidade de Tietê, onde havia uma estação de onde desembarcou a maioria dos imigrantes que aqui vivem, após se estabelecerem nas fazendas passaram a trabalhar  com seus familiares.Após  muitos anos de atividades a estação encerra suas atividades em dezembro de 1960, hoje seu prédio cumpre a função de um albergue.
Imagem: Centro Cultural Tietê

Tietê século XIX

“Nos recenseamentos das ordenanças de 1803 já encontramos: João Leite Siqueira, com oito escravos: João de Oliveira Freira de Andrade, com quinze escravos: Vicente Leme do Amaral, com vinte e quatro escravos; alferes Matias Teixeira da Silva com Vinte e seis escravos. O alferes José Antonio Paes, o mais rico dos povoadores de Tietê, era senhor de trinta escravos.Em 1832, o número de escravos supera ao da população livre”.
                                                                   (Almeida, Benedicto Pires)


            Tietê até a primeira metade do século XIX continuava com sua economia voltada para produção rural, contrapondo todo cenário paulista onde a base da riqueza estava na produção de café, a cidade buscava o desenvolvimento através do cultivo da cana de açúcar para abastecimento dos engenhos para produção de açúcar e aguardente, sendo resultante um imenso esforço de mão de obra cativa para o corte e a colheita.  Porém, o respaldo econômico que o café iria prover seria extremamente sedutor, fazendo todos os produtores de Tietê a partir da segunda metade do século XIX, participar da cultura do café, até seu declínio a partir da década de 30.
 Imagem: Wikimedia


A população era massivamente rural, havendo um pequeno foco de urbanização a partir de uma rua que se deslocava paralelamente ao rio que seria denominada como Rua do Comércio, onde parte da produção produtos manufaturados como alfaiates, quituteiros e também prestadores de serviço como marceneiro e pequenas vendas, ali se instalavam para realizar suas atividades.  

Chegada dos imigrantes em Tietê.

            Os imigrantes que aqui chegavam ocuparam-se em sua maioria entre os postos de lavradores e comerciantes, mesmo alguns tendo especializações diversas. Dada as suas convergências culturais e religiosas os grupos familiares que aqui chegaram gerariam um consenso de união entre essas famílias, sendo criado um senso comunitário muito forte, herança presente até os dias de hoje.
Chegavam sempre em grupos familiares, onde todos da família remeteriam um grande esforço para produção e o cultivo, que onde após a colheita retirariam seu sustento, boa parte dessas famílias conseguem acumular capital durante esses períodos de prosperidade sobre o café, porém quando em 1929 quando a bolsa de valores americana quebra, as exportações do café no Brasil serão profundamente prejudicadas, o Brasil sofre um impacto direto com essa crise, lavouras inteiras de café se perdem e estagnam, pois a maiorias dos países importadores de café entram em crise profunda congelando as importações. As grandes famílias cafeicultoras ou os famosos barões do café serão totalmente prejudicados, parte dessas terras passaram a ser adquiridas pelos imigrantes, e em nossa região será retomada as atividades canavieiras, que antes se faziam muito, no século passado. Outros remetem a atividades mais simples, como pequenos cultivos diversos de subsistência e a pecuária, muitos desses imigrantes conseguem estabilidade econômica para serem agentes importantes nos processos de urbanização e industrialização que tietê iria passar posteriormente no decorrer dos anos.
A nossa região passaria a sofrer um impacto cultural gigantesco, na arquitetura, gastronomia e no modo de vida. A rica e diversa cozinha italiana se espalha por todo interior paulista, cada imigrante de determinada região seja norte ou sul, traz consigo uma bagagem gastronômica diversa, até mesmo entre os próprios novos colonizadores, gerando alterações e adaptações regionais a cada prato, se adaptando com a abundância de ingredientes presente com mais facilidade a região.
O Choque culinário causou estranhamento em toda comunidade, uma delas foi o senhor Giuseppe Morosin, em uma carta enviada a um amigo na Itália relata:

“Aqui, encontramos a comida do caipira à base de milho e feijão, porco e galinha. Nós preparamos estes ingredientes de acordo com nossos hábitos alimentares. O gosto do camponês pela polenta, minestra e pão com carne salgada, peixe seco ou legumes veio junto na mala de viagem da família italiana. Do milho, fazemos o fubá para o preparo da polenta, como os italianos do Norte, ou da broa, como os italianos do sul. Do porco, fazemos os embutidos, bem como aproveitamos os miúdos e o sangue. A carne de porco oferece, também, o lardo para condimento. Preparamos, ainda, os legumes em conserva e as frutas secas. ” (24 de maio de 1889).

Como também assentiriam a tradicional culinária paulista, se adaptando se rendendo a cultura do arroz com feijão, essa mescla também mostraria resultados nos campos de cultivo, afinal houve uma exitosa implementação do cultivo de tomate que antes por aqui inexistia, juntamente com as videiras, sendo um dos pontos de maior orgulho da culinária ítalo-brasileira.
Culinária, hábitos, e até mesmo no diálogo é fácil notar a forte presença da cultura italiana em nossa cidade, a manutenção e a valorização dessa mescla cultural é um fator determinante para se preservar a identidade de inúmeras famílias tieteense, que aqui nesta terra querida fizeram-na prosperar.

Eli Leão
Secretaria de turismo e cultura.














   Referências Bibliográficas


Benedicto Pires de Almeida, Tietê, os escravos e a abolição, Revista do Arquivo municipal, São Paulo, 1944.
Tânia Biazioli, A colheita da cozinha italiana entre os cafezais do interior paulista, 1880-1930, Revista de Comportamento, Cultura e Sociedade Vol. 4 no 1 – setembro de 2015
PETRONE, Maria Thereza Schorer; HOLANDA, Sérgio Buarque de. Lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio (1765-1851): 1964.Universidade de São Paulo, São Paulo, 1968.
Pires de Almeida, Benedicto. Cronologia Tieteense, 1980.

Acesso as: 06/12/2019 as 10:11
Acesso as: 07/12/2019 as 11:55

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