História da fundação da Paróquia Santíssima Trindade em Tietê

        
(acervo secretaria de Turismo e Cultura)

  As primeiras missas que ocorriam na vila do Pirapora, não eram realizadas de forma regular. O local onde aconteciam as orações, situava-se em uma casa na rua do Porto Geral, aonde a paróquia mais próxima, disponibilizava de forma itinerante alguns padres para poder celebrar as missas, entre eles, um que estava à conhecimento de todos, Padre Alexandre Faria Barros, do qual recebeu a indicação dos moradores para administrar a nova paróquia. Após receber a elevação de Freguesia, em 1811, no ano posterior fora instalada a paróquia, onde a singela casa de orações seria responsável pelas administrações dos sacramentos até o fim da construção da primeira matriz.
Para realizar a instalação da paróquia e iniciar a construção da matriz, no ano de 1809, diversos moradores insatisfeitos com a administração dos sacramentos realizados na Vila do Pirapora, ainda pertencente a administração de Porto Feliz, se reúnem para requisitar diretamente ao Bispo de São Paulo, a elevação da condição de vila para freguesia, com isso buscavam facilitar a realização dos batismos, enterros, missas e outros sacramentos. O bispo responsável durante o período, era Dom Matheus de Abreu Pereira, do qual recebeu o pedido encaminhado pelos moradores com diversas assinaturas dos habitantes; onde posteriormente, após o bispo receber o pedido, ele escreve uma carta a sede da coroa, que estava fixada no Rio de Janeiro, buscando concretizar o apelo dos moradores.
Dom Mateus de Abreu Pereira, 5º Bispo de São Paulo
período  (1795 - 1824).

A recomendação do bispo junto ao pedido dos moradores, vão para sede da coroa onde o príncipe regente Dom João VI,  por meio de um alvará declara:



"Eu, o Príncipe Regente de Portugal e do Mestrado Cavalaria, e ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo.Faço saber que representando-me o Reverendo Bispo de São Paulo do meu Conselho a necessidade que havia de erigir-se uma nova Freguesia com a invocação da Santíssima Trindade no bairro de Pirapora daquele Bispado, desmembrando este território da Freguesia de Porto Feliz, instruindo aquela representação com uni requerimento, que para este fim lhe fizeram os moradores do mesmo Bairro, em que lhes expunham, que vivendo separados da Igreja Matriz por espaço de cinco léguas pelo caudaloso Rio Tietê,' o que os privava dos socorros espirituais, que não podiam obter muitas vezes, que lhes eram necessários: e vista a resposta do Pároco respectivo, e dos Procuradores das Ordens, e da minha Real Casa e Fazenda, que tudo subiu a minha Real presença em consulta do Tribunal da Mesa da Consciência, e Ordens; hei por bem conceder aos moradores sobreditos do Bairro de Pirapora a ereção de uma nova Freguesia no mesmo Bairro, com a invocação da Santíssima Trindade; desmembrando-a da Freguesia de Porto Feliz. Pelo que mandou ao Reverendo Bispo de São Paulo do meu Conselho, que assine os limites que lhe parecerem mais justos e próprios a esta nova Freguesia, que porá a concurso na forma do Alvará das Faculdades. Este se cumprirá como nele se contém sendo passado pela Chancelaria da Ordem e registrado nos livros da Câmara do Bispado de São Paulo, e nos de ambas as mencionadas Freguesias, e valerá como carta, posto que seu efeito haja de durar mais de um ano sem embargo de Ordenação em Contrário. Rio de Janeiro, três de agosto de mil oitocentos e onze. Príncipe com guarda — Marquês de Angueja, Procurador, aliás, Presidente".


Após a concretização do pedido de elevação da nova freguesia, outros problemas começam a surgir, durante os primeiros momentos da instalação da paróquia, um dos quais, fora a modéstia que os ritos religiosos estavam sendo realizados perante a simplicidade da estrutura da casa de oração, que servia temporariamente para realização dos sacramentos, que acabou não agradando nem um pouco o Dr. Joaquim de Abreu Pereira, que estava a mando do bispo Dom Mateus, durante a visita episcopal realizada em 1814, do qual estava a cargo de vistoriar a condições dos fiéis, e os rumos da recém fundada paróquia, e o andamento da construção da matriz; deparando-se com a simplicidade do local onde eram realizados os batismos e todos os ritos sagrados, e seguidamente declama aos fiéis e o pároco;

 Determino que o muito Revmo. Pároco anime e exorte incessantemente os seus Paroquianos para que estes se animem e esforcem, e concorram com esmolas ou com trabalhos pessoais para a conclusão da Matriz desta Freguesia visto a indecência com que está o oratório onde se celebram os ofícios Divinos; bem como os paramentos e alfaias de primeira necessidade por vista a grande pobreza desta Paróquia e todos de mão comum devem concorrer para a decência e ornato que deve ter a Casa de Deus, e morada de Jesus Cristo entre os homens, fazendo-lhes ver que Deus jamais deixará de premiar qualquer obra boa havendo constância e perseverança.” (Almeida B. P., 1980).

Seguindo a visita, foi realizada uma missa solene ao mortos sepultados no antigo cemitério, que ficava no mesmo terreno da Primeira Matriz que ainda estava em construção (atual Praça, J.A. Corrêa) e também uma avaliação das condições do local onde estavam sendo realizado o sepultamento, do qual precisava de reformas e melhorias das estruturas, pois ficava aberto e sem nenhum tipo de proteção contra animais e vândalos.
Toda essa visita teve acompanhamento do primeiro vigário de Tietê, o ilustre Pe. Manoel Paulino Ayres, que ao longo 24 anos (1812 à 1836), foi o principal responsável pela fundação da primeira Matriz, ao decorrer do tempo cuidou e zelou com total dedicação e carinho pela Paróquia da Santíssima Trindade, qual foi responsável pelos primeiros batismos, registros de óbitos e organização de toda estrutura dos fiéis pertencentes a essa comunidade.
(Antiga Matriz / Acervo Secretaria de Turismo e Cultura)
 Ao fim do ano de 1816, a primeira Matriz e sede da paróquia estava totalmente pronta e preparada para atender os fiéis de forma abrangente, tendo sua frente virada para a rua do Porto Geral, hoje Rua João Batista Nitrini. Todavia, quando a freguesia do Pirapora passava por um crescimento econômico e populacional, conforme demonstra os censos realizados em 1836 à 1852, durante o período prospero das atividades canavieiras nesta região, a população tieteense chegou a quase quadruplicar em apenas 16 anos, seguindo a mesma acentuação até 1872, chegando ao total de 10.186 habitantes, em pouco tempo, a estrutura da matriz já não suportava mais os fiéis. (Almeida B. P., 1942)
A igreja Matriz ainda gozava da modéstia em sua estrutura, de forma rudimentar, e com simplicidade ainda eram realizados os ritos religiosos, havia apenas o necessário para os sacramentos (conforme descreve um inventário de 1841), o crescimento populacional sobrepujante, acabava indicando a necessidade de ampliação da matriz, porém o terreno e a estrutura principal, eram os maiores empecilhos; do qual foram relatados pela organização administrativa da cidade ao governo provincial sobre a mesma, em 18 de março de 1852, que em resposta a diversas perguntas diz:“Entre as obras públicas de muitas circunstâncias ‘que este município demanda, nota-se uma Nova matriz e uma cadeia; aquela, visto que a existente, por pouco espaçosa, não oferece comodidade para o povo, e mesmo o seu estado não promete muita duração, atento aos materiais de sua construção” (Almeida B. P., 1980, p. 295).
Todos esses problemas estruturais da antiga Matriz, fez com que em pouco tempo precisasse de uma melhor localidade para construção de uma igreja mais adequada, qual posteriormente acabou se estabelecendo uma comissão em 1858 para pesquisar um local, do qual seria o melhor e mais apto para dar a graça da construção de uma nova matriz. Após muitas pesquisas o melhor local encontrado fora o Terreno do Sr. Elias Vaz de Almeida que localizado em frente à Praça dos Curros (Atual Praça Dr. Elias Garcia) para ali instaurar a sede paroquial.
A câmara municipal, em acordo com o proprietário chegaram ao consenso do valor de 525$000 Réis, do qual o acordo foi concluído em 1859. Em 1881, em um grande júbilo popular, se inicia a construção da atual igreja matriz, com a colocação da pedra fundamental, da qual teve a presença de todas as autoridades do município e a benção do Pe. Gaudêncio Antônio de Campos. Porém ao mesmo ano, a construção foi parada, somente ao ano de 1892 com a vinda do Cônego Agnelo José de Moraes e seus esforços, foram retomadas as obras, que continuaram até sua saída, em 1895, voltando a ficarem paralisadas.
Somente com a vinda do Padre Vicente Lattieri em 1902, as obras da matriz somente retomadas, graças ao esforço do Padre santo e sua vontade inimaginável para concluir a matriz, acabou  realizando leilões, espetáculos e listas solicitando ajuda dos fiéis tieteenses e de cidades vizinhas, os frutos de tamanho esforço e determinação foram colhidos no ano de 1904, com a finalização das obras.
A construção seguiram ao todo 24 anos, entre paralisações e retomadas, sendo em 27 de maio de 1904 realizada por ordem do Bispo de São Paulo, o Cônego geral Antônio Pereira Reimão concedeu a provisão para a benção da nova Matriz, sendo que a partir 16 de abril 1905 as missas passariam a ser realizadas na nova matriz, hoje frente a praça Dr. Elias Garcia. (Almeida B. P., 1980) 
( Acervo Secretaria de Turismo e Cultura)

Eli Leão 

Bibliografia

Almeida, B. P. (1939). Breve Notícia. Sobre a Paróquia de Tietê e seus Vigários.
Revista do Arquivo Municipal, pp. 103-120.
Almeida, B. P. (dezembro de 1942).Tietê Através do recenseamentos. Revista do
Arquivo municipal, pp. 209-227.
Almeida, B. P. (1980). Cronologia Tieteense. São Paulo: Milesi.




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